domingo, 25 de abril de 2010

Flerte (Peça em um ato)

CENA: Um Sport bar americano ou um Pub irlandês, o que for mais simpático de acordo com o meu humor. Relativamente cheio. Aproximadamente 7 pessoas e uma cabra... Contando o bartender.

Quando sobe o pano, Carla, uma mulher estonteante, trajada de vestido longo vermelho escuro, usando esmalte cor escarlate, tomando um Cosmopolitan. Ao seu lado um banco vazio, porém prestes a ser ocupado por Charles, um homem ridiculamente feio, mas com um certo charme. Charles entra no bar e se senta no banco. Devem ser interpretados, obviamente, por uma mulher maravilhosa com dentes limpos e um homem bem feio usando belos sapatos.

Charles: Jack n' Coke!

O bartender olha para Charles.

Charles: Com duas doses de Jack, por favor.

Enquanto o bartender prepara a bebida Charles vira para Carla.

Charles: Quer mais um drink?

Carla: Não, (amarga) obrigado, se eu quiser eu peço.

Charles: Não é porque te ofereci um drink, que quero dormir com você.

Carla: Um pouco direto o senhor, para um pobre advogado.

Charles: Sou escritor.

Carla: Grande merda que você é um advogado.

Charles: Hum! Na verdade eu quero dormir com você. Da para pedir a porra do drink. Deus, em menos de 2 minutos de conversa você já ta me enchendo o saco.

Carla vira para o bartender.

Carla: Cosmopolitan, forte, por favor.

Charles: Não sou advogado, sou escritor.

Carla: Não sou prostituta.

Charles: E qual é o seu problema com prostitutas. É uma profissão muito honesta se for pensar.

Carla: Profissão honesta!? Irónico, vindo de um advogado.

Charles: Puta que me pariu!

Carla: Você fala como alguém apaixonado por uma puta.

Charles: Não amo. Nada. E não espero que alguém me ame.

Carla: Não entendo.

Charles: Simples, quando vou a um restaurante e peço o prato mais caro de camarão, não quero saber se ele me ama de volta, só estou pagando pelo prazer de comer um bom produto.

Carla: Não entendo como não pode amar.

Charles: O amor nos leva a fazer escolhas estúpidas.

Carla: Mas, você nunca teve alguém?

Charles: Uma certa vez encontrei um amigo que falava com ar de paixão sobre uma misteriosa mulher que ele conhecia a anos, Christina era o nome dela. Ele dizia que Chris era mulher que nenhum homem jamais se casaria. Eu logo respondi. Eu me casarei. Casamos logo que nos conhecemos pessoalmente, mas foi tão rápido que quando nos conhecemos... Nos separamos.

Carla: O que é você? Um viciado?

Charles: Não tenho vícios, só bebo e fumo quando jogo.

Carla: Quero dizer, o que é você?

Charles: Não sou um advogado, isso te garanto.

Carla: O que fez... Sabe, para mudar alguma coisa.

Charles: Misturando prostitutas, corridas de cavalos e musica clássica, já escrevi mais de 50 livros, fora milhares de publicações baratas.

Carla: Nossa! É verdade?

Charles: Não, to mentindo.

Carla: Porque?

Charles: Se não trapacear é porque não estou tentando o bastante.

Pela primeira vez na conversa se pode notar um sorriso discreto na cara de Carla.

Charles: Você é linda.

Carla: Ah! Não me venha com essa. Achei que você fosse diferente, linda?! Sei que sou, mas não gosto.

Charles: Você por algum motivo se sente vítima da sua própria beleza. Aproveite, isso é um presente da humanidade para...

Carla: Presentes expressam culpa. Quanto mais cara a expressão, maior a culpa.

Charles: O que você fez?

Carla: Nada.

Charles: A melhor forma de se livrar da culpa é confessar os seus pecados.

Carla: Beleza não vale nada e depois não dura. Você não sabe a sorte que tem de ser feio.

Silêncio. Os dois terminam seus drinks. Carla vira para o bartender.

Carla: Mais uma rodada. Mais forte dessa vez, por favor.

Charles: Junto com nossos drinks, traga dois shots de Jägermeister.

Carla: O que é isso?

Charles: A bebida que Jesus bebeu e pegou uma mina.

Carla: Uma vez me falaram que Jäger tira a dignidade de qualquer pessoa.

Charles: Não tem nada mais sexy do que uma mulher tomando Jägermeister.

Os dois trocam olhares e sem brindar viram o shot.

Carla: O que te faz pensar que vou transar com você?

Charles: A graça está em não saber.

Carla: Não vou transar com você.

Charles: Tem coisa melhor do que não ter certeza?

Carla: Tenho certeza de que você é advogado.

Charles: Não vou te falar de minhas publicações.

Carla: Porque você não é escritor e sim um advogado de mer...

Charles: Os sucessos só são lembrados até alguém estragar tudo, o fracasso é para sempre.

Carla: Já falei que não vou dormir com você. O que ainda está fazendo conversando comigo? Não parece o tipo de pessoa que precisa de amigos.

Charles: Se a admiração acaba quando a verdade é revelada, nunca ouve admiração.

Charles pega um guardanapo rabisca alguma coisa e entrega para Carla. Que lê com um tom de surpresa.

Carla: Eu te amo!? O que caralho isso quer dizer.

Charles: Mulheres gostam de receber cartas de amor, assim um dia elas lembram que foram amadas.

Carla: De um jeito estranho, mas você só me surpreendeu.

Charles: Já que você não quis transar, pelo menos um café você poderia pagar para mim.

Carla: Já vai embora? Você parece tanto que eu preciso de uma bebida.

Charles: Realmente preciso ir, bom, na verdade, não preciso. Quero ir! Não vai sair daqui comigo e nossa conversa está em um ponto alto e importante, se eu sair agora tenho certeza de que mexi com você o suficiente para pelo menos pensar em toda a situação.

Carla: Nunca vai me ver de novo. Na verdade, você está certo! Não vou sair daqui com você e sim! Vou pensar nessa situação... Mas depois disso acabou, nem vou me lembrar de você.

Charles deixa um quantia de dinheiro em cima do balcão, o suficiente para pagar tudo o que ele bebeu, ela bebeu e o que ela provavelmente vai beber. Assim que ele levanta Carla segura seu braço.

Carla: Te vejo em um próxima vida.

Charles: Vou checar o tempo aonde você estiver.... Vou querer saber se você pode ver as estrelas a noite.

Charles caminha para fora do bar/pub.

Luzes vão a fade out no topo do palco luzes pequenas imitam estrelas. Quando sobram somente as estrelas. Desce o pano.